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Maracaju/MS

Terça, 26 de dezembro de 2006 - 15h34min

Mato Grosso do Sul: holandeses investem em tecnologia

Pioneiros na introdução de novas tecnologias no cultivo de grãos e pecuária em Mato Grosso do Sul, os holandeses, que chegaram a Maracaju entre as décadas de 70 e 90, foram os responsáveis por parte da prosperidade econômica da região. O município (situado a 164 quilômetros de Campo Grande) é hoje a 5ª economia do Estado, com rebanho bovino de quase 300 mil cabeças, sendo o maior produtor de soja de MS, com 200 mil hectares cultivados e uma produção anual de 576 mil toneladas do grão. O plantio direto – o qual foi introduzido na região pelos imigrantes vindos da Holanda, com a técnica denominada integração agropecuária,– confere alta produtividade e menor custo aos produtores locais.

Conforme a Prefeitura Municipal de Maracaju, o município tem a maior área de lavoura cultivada por meio de plantio direto no Estado. A técnica, na qual a terra não é arada, sendo somente preparada para o plantio com adubo e calcário, acaba tornando a área livre de processos erosivos e de empobrecimento do solo.

Já a técnica denominada pelos holandeses como "integração agropecuária" e iniciada no final da década de 80 em Maracaju, confere maior produtividade em diversas culturas e também na pecuária. Foram as famílias Vander Vinne e Wielemaker as responsáveis por esta nova empreitada no Estado.

De acordo com o holandês, Ake Vander Vinne, de 57 anos, mais conhecido como "Chico Holandês" e que está há 34 anos em Maracaju, a nova técnica foi introduzida por ele e pelo também holandês, Krijn Wielemaker. "Foi um processo de descoberta que foi acontecendo aos poucos, quando fomos percebendo que a integração entre diversas culturas e a pecuária dava muito certo", explicou.

Segundo Chico Holandês, que é inclusive chamado para diversas palestras e eventos sobre o assunto em todo o Estado, a integração agropecuária trata-se de uma rotação de culturas agregada a criação de gado. Sua fazenda, por exemplo, com 800 hectares, está dividida em 16 lotes onde são cultivados soja, algodão, milho safrinha, entre outras culturas, além do plantio de braquiária para a criação de gado.

"No primeiro ano, eu planto soja neste lote e cultivo durante o inverno milho safrinha; no segundo, é algodão seguido de aveia-preta e tanzânia; no terceiro, soja novamente e, durante o frio, pé-de-galinha com tanzânia; já no quarto, lanço as sementes de braquiária e deixo o gado pastar ali por cerca de ano e meio", explicou o imigrante, lembrando que com esta nova técnica, ganha produtividade bem superior a outros fazendeiros sul-mato-grossenses: "Enquanto alguns produtores conseguem apenas 3 arrobas por hectare ao ano, eu tenho cerca de 20 arrobas", contou, satisfeito.

Chico Holandês, que acompanha de perto sua lavoura e põe a "mão na massa", afirmou que a produção de soja também é maior. "Ganhamos aqui cerca de 10 sacas a mais de soja por hectare", frisou o holandês, enquanto exibia com orgulho o "ganho" de mais de 30 anos de trabalho.

"Dessa forma, a terra fica mais produtiva e até a braquiária vem melhor. Com a integração agropecuária e o plantio direto, que já venho fazendo a 22 anos, consegui comprar minhas terras e criar minha família", contou, emocionado, lembrando que durante décadas trabalhou para conseguir comprar sua propriedade.

Contribuição
Para o prefeito de Maracaju, Maurílio Azambuja (PSDB), – cidade que atualmente tem cerca de 28 mil habitantes, conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e orçamento para 2007 de R$ 44 milhões –"os holandeses prestaram um grande serviço ao município, na medida em que introduziram tecnologia no setor agropecuário".

Segundo ele, hoje, entre cinco grandes produtores, 2 são holandeses ou descendentes diretos. "Podemos considerar que todos esses imigrantes já são proprietários das terras onde cultivam e responsáveis por grande parte da produção de Maracaju", frisou, estimando que cerca de 30% dessa produção local de grãos seja proveniente das então "lavouras holandesas, em Maracaju".


De arrendatários, a prósperos proprietários
Os holandeses de Maracaju, que começaram suas lavouras com terras arrendadas, hoje, são grandes proprietários e ainda investem pesado em tecnologia. Com colheitadeiras computadorizadas e outros maquinários de última geração, eles administram com sucesso seu "negócio" em Mato Grosso do Sul. Exemplo disto é a família Beukhof, na região. Eles, que plantam soja por meio da técnica de plantio direto em cerca de 1.850 hectares, conseguiram estabelecer-se com muito conforto no município, em fazenda bem próxima à cidade.

Gijsbertus Beukhof, de 56 anos, sua esposa Engelien Klasina Beukhof, 54, e seus dois filhos, Márcio e Juliano residem na sede da Fazenda Cristalina, situada a cerca de cinco quilômetros da cidade. A casa da família, construída há cerca de 10 anos, é o símbolo do trabalho suado de mais de 30 décadas de lavoura em Maracaju.

"Chegamos aqui sem nada, só com nosso trabalho; arrendamos terra e aos poucos fomos crescendo. Contudo, com muita dedicação ao trabalho", explicou Engelien, mostrando fotos da antiga residência na fazenda, erguida de madeira. Hoje, segundo a holandesa, são seus dois filhos que ajudam na lida. "As colheitadeiras, por exemplo, são eles e o pai que tocam, já que para operá-las é muito complicado", disse, orgulhosa da família que construiu em Mato Grosso do Sul.


Aline Avancini

Fonte: Correio do Estado

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